Bem vindos ao blog!

Este blog é um projeto meu em parceria com uma grande amiga. Estamos construindo a história de Antônio e a bruxa Alana. Dois personagens enigmáticos que se encontram graças as forças do destino. Ambos estão em busca de algo oculto - a sabedoria pagã em seu mais alto nível. Postaremos semanalmente novos capítulos dessa história. Puxe uma cadeira e embarque conosco nessa incrível trajetória mística. Bem vindos ao Caldeirão da Bruxa. Alexandre C. Martins

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O mistério de Lana - Parte II

Acordei tranquilamente. Não havia uma parte de meu corpo que não estivesse amplamente revigorada. Já me era possível ver, por entre as frestas da janela, o sol magnífico que lá fora brilhava. Tomado por um contentamento instantâneo quase levantei, mas o leve frio matinal me fez mudar de idéia e me enrolar ainda mais nas cobertas. Virei-me para lado em busca do corpo de Lana para me entrelaçar, mas como era de praxe, ela já havia, sorrateiramente, se embrenhado noite a dentro em sua fuga silenciosa. Tal atitude já era esperada. Fora assim em todas as outras vezes, não haveria de ser diferente agora. Porém desta vez aquilo me irritou profundamente. Esperava acordar e receber respostas. Naquela manhã, porém, havia um bilhete na cômoda:

Antônio,
Você, meu querido, está obviamente sedento por explicações. Digo que não as tenho todas, mas as que possuo lhe serão de grande valia – em breve. Encontre-me às 20h na Praça da Figueira. Vista-se de branco e venha. Apenas faça o que lhe peço.
Sua bruxa Lana.
PS: belo desempenho.

Não pude conter o sorriso ao ler o recado final. É típico de Lana fazer comentários soltos. Nunca voltaríamos a falar daquela noite, bem como sempre o fizemos. Entretanto, largar uma frase ao vento era sua assinatura. O último recado fora algo do tipo: “Na próxima esquecerás o mundo”. Convenhamos, Lana não passava despercebida em lugar algum. Quando a tenho em meus braços sempre deixo o mundo lá fora – não há espaço para qualquer outra coisa.
Passei o dia em função do que estaria por vir. Não consegui escrever nenhum dos textos dos quais estavam planejados. Mal pude comer, pra ser sincero. Pensava apenas nela e no que teria para me dizer. E assim o dia passou lentamente. Antes de sair certifiquei-me de tomar um banho de ervas pra me acalmar e também me livrar da sensação de paixão a qual bombardeava meu coração com lampejos de desejo. Segui em frente, temeroso e ao mesmo tempo excitado.
Cheguei pouco antes das oito no local combinado e nem um sinal de Lana. Sentei-me e aguardei. Não demorou muito para ela dar as caras. Chegou vestindo um vestido azul claro, os cabelos negros soltos nas costas. Em mãos tinha ela alguns livros e uma pasta florida de plástico. Sentou-se ao meu lado sem cerimônia e desatou a falar:
Não tenho muito tempo então vamos direto ao assunto – disse ela sem nem mesmo me olhar – Antes de ir para sua casa tive uma sensação estranha. Uma sensação de perseguição. Havia algo mais em meu quarto além de mim e minhas roupas estavam espalhadas. Havia algo no ar que não estava certo. Sentei-me um pouco e esperei, atenta a qualquer detalhe. Foi quando, num único segundo, ele apareceu pra mim.
Respirou, olhou para a pasta e a abriu. Sempre apressada. Nunca a vi assim e isso começou a de fato me incomodar. Certamente algo muito sério acontecera e eu mal podia esperar para descobrir do que se tratava e ainda, quem seria “ele”.
Antônio, olhe para esta foto e me diga. Já viu este homem antes?
Olhei atentamente para o retrato sem saber ao certo o que procurar. O homem tinha cabelos curtos e loiros. Olhos verdes, expressão séria e impassível. Tentei encontrar traços conhecidos, mas nada ali parecia familiar. Demorei um tempo nesse exercício o qual julguei inútil num primeiro momento.
Lana, sinceramente, nunca vi esse cara antes. Quem é?
Não me respondeu. Apenas entregou-me a fotografia e fez menção, sem me dirigir palavra alguma, de que olhasse com mais atenção. Aquilo me irritou. Tive que me conter para nada dizer. Conhecendo Lana como conheço, sabia bem que não deveria enfrentá-la em hipótese alguma. Obedeci exatamente como ela esperava que o fizesse.
Quando já estava pra desistir dei-me conta de algo o qual havia deixado passar – por pura estupidez e preguiça. Eu já havia visto aquele homem, mas ainda não conseguia lembrar de onde exatamente. Forcei minha mente em busca de tal encontro ou vislumbre sem muita sorte.
Lana. Sim eu já o vi. Mas agora não consigo chegar a um consenso sobre o local ou circunstância.
Ele é conhecido como Lord Von Tren. É um bruxo da alta magia. Tem um bando de seguidores e ainda a fama de fazer o que bem entende sem que nada ou ninguém fique em seu caminho.
Retirou da pasta uma nova foto e a exibiu com olhar inquisitivo. Tornei a me concentrar. E por incrível que tenha me parecido, de cara lembrei do homem. Estava em uma livraria dias atras procurando uma edição do livro Entrevista com o Vampiro para presentear Lana. Na sessão de literatura estrangeira dei de cara com o Lord. Ele me olhou de cabo a rabo, o que me deixou desconfortável a princípio. Continuei na busca até que ele falou algo:
Seria melhor um livro menos fictício não concorda?
Virei-me para ele com um ponto de interrogação estampado na cara. Continuou ele:
Não fique intrigado, sou perceptivo e posso lhe garantir que esse não é o presente ideal – deu de costas e começou a caminhar para a saída – a princípio, não chegarão lá.
Como de costume avaliei que seria apenas um louco. Um olhar mais apurado teria percebido o que se desenrolava diante de mim. Mas a desatenção é o pior de meus defeitos. E hoje percebi que pagaria por isso.
Meu garoto bobo, Quando vai aprender a prestar atenção com o que lhe ocorre?
Lana falou sem reprovações, havia um certo carinho em suas palavras. Um afago ao mesmo tempo que um apelo. Isso não mudaria, é algo incrustado em meu ser. Por mais que tente, serei sempre o desatento compulsivo.
Precisamos nos defender e você precisa aprender a lutar. Foi o Lord quem veio a mim na noite em que apareci naquele estado deplorável em sua casa. Senti a presença dele, ou melhor, da energia, da magia a qual ele estava fazendo uso. Quando dei-me por conta o Lord já estava agindo. Desfez minhas roupas em pedaços e num minuto já não estava mais ali.
Fez uma pausa. Nesse meio tempo não ousei dizer qualquer palavra, aguardaria o tempo que fosse. Reparei que não havia mais um olhar triste ao tocar no assunto. Ela estava forte e decidida. Agora era hora de agir. Continuou:
Preciso lhe contar um segredo Antônio. Talvez pode me odiar, ou ainda me culpar por tudo que ainda está por vir, mas é necessário esclarecer tudo de uma só vez – pegou minha mão enquanto encarava-me quase que em suplica – eu vim até você, não foi o contrário. Sei que pensou ter-me encontrado, mas eu já estava atras de você há um bom tempo. Você, meu querido, está em meu destino. Você nasceu para lutar ao meu lado contra pessoas como o Lord. Seu potencial é fantástico, mas você ainda não se abriu para a magia, ainda a encara como brincadeira. Tudo o que existe está muito além do que eu mesma posso te ensinar.
Lana você está me deixando confuso – limitei-me a esta frase. Pareceu-me o mais apropriado.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa senti um calafrio. Levantei-me num susto e procurei por algo – nada. Lana me abraçou e esta foi a última coisa naquela praça. Como que sugado por algo e me vi em outro lugar.
- Veja bem meu querido, as coisas se farão claras na hora certa. Esse homem não está atrás de mim, mas sim tentando nos impedir de alcançar nosso objetivo maior. Nosso crescimento espiritual e intelectual. E ele tem inúmeros motivos para odiar nossos avanços. Por hora acredite em mim. Está na hora de avançarmos em nossa caminhada.
Sabia que ela não me daria mais informações, a típica saída pela tangente. Aprendi a lidar e aceitar tal coisa há tempos.
- E agora como ficamos? – falei tentando ser o mais tranqüilo possível.
- Agora eu tenho que ir. Porém nos encontraremos em breve – retirou do bolso meu pentagrama – volte a usá-lo. Logo lhe explicarei como ele veio parar em minhas mãos. Estarei ausente por uns dias. Quando voltar lhe procurarei de imediato. Por hora peço que concentre-se em tudo que já lhe ensinei. Como numa retrospectiva, afogue-se no passado. O seu futuro depende disso.
Saiu as pressas sem olhar pra trás e novamente ali fiquei com cara de tacho. “Ora, novidade”.  Quando pensava em sair dali percebi que Lana havia esquecido a pasta que trouxera consigo. Não resisti a curiosidade e dei cabo a folhear os papeis ali contidos. Pra minha surpresa, a seqüência de folhas era uma narrativa intitulada “No caminho da Magia”. Ali mesmo comecei a leitura e era como se Lana estivesse a falar ao pé de meu ouvido.
Não sabia ao certo se deveria continuar, mas a vontade falou mais alto calando qualquer outro sentimento avesso.
Continua ...

3 comentários:

  1. História envolvente...
    Adorando ler seu Blog!
    Bjão (Que venha o 3º capítulo suahsaush)

    :D

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  2. Ebaaaa... agora bora para o 3º capitulo... beijusss

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  3. Carta de poucas palavras, mas que, nos permite a ter milhares de pensamentos distintos. Ótimo recado final, o que mostra o encaixe perfeito de Antonio e Lana. Que mesmo com suas idas e vindas, ela se faz presente e promete faze-lo entender todos os porque's que ela mesmo provoca. E quem lê ja quer saber... vamos lá, vamos continuar embarcando nessa viagem.

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